- A música militar e sua harmoniosa missão

Este artigo traz à reflexão o emprego da música militar na antiguidade e nos dias atuais. Os chamados "bandos de aventureiros" do Século IV, colocam-se, hoje, entre os principais instrumentos psicológicos no despertar das grandes massas. Tal poder deve ser levado a sério e utilizado nas operações militares, confirmando a citação do General Jonas Correia, em 1921: "A canção militar é um alimento para o espírito militar e estimulador da alma do soldado".
É sabido que a atuação da banda de música influencia, espontaneamente, todo o efetivo de uma unidade militar e, quando levada para além dos muros da caserna, causa admiração, provocando aplausos. Isto gera, nos bons patriotas, intenso desejo de ingresso na vida castrense. Quem de nós poderá afirmar que nunca se emocionou ao ver e ouvir uma banda de música executar hinos pátrios ou desfilar garbosa, despertando uma irresistível vontade de marchar ou cantar? É pura magia em forma de convite para avançar, como Napoleão Bonaparte afirmou: "Ponha uma banda de música na praça e o povo a seguirá para a festa ou para a guerra".
No passado, o músico militar era autodidata. Nos dias atuais, com a evolução e o aprimoramento profissional do Exército Brasileiro, em 2005, criou-se o Curso de Formação de Sargentos Músicos na Escola de Instrução Especializada (EsIE). Em 2011, o curso transferiu-se para a Escola de Sargentos de Logística (EsSLog) e, em 2015, passou a formar as primeiras mulheres musicistas, concluindo mais uma etapa evolutiva da Força. Nessa Escola, são formados também, os mestres de música, futuros regentes das bandas de musica e fanfarras do Exército, distribuídas pelo território brasileiro.
As obras musicais apresentadas pelas bandas e fanfarras seguem padrões modernos, abrangendo todas as camadas da sociedade e representando a música dos quatro cantos do Brasil. A formação primorosa e a aplicação desses músicos em diferentes atividades transformam-nos em artistas comparáveis aos das mais avançadas orquestras mundiais, verdadeiro espetáculo de sons.
O Exército de Caxias cultua valores, costumes e tradições, sendo um deles as bandas de música e fanfarras. Por essa razão, é necessária a pesquisa das origens dessas relíquias, a fim de bem aproveitá-las nos dias atuais e prepará-las para o futuro.
A banda de música militar é originária da fanfarra de Cavalaria, formada por instrumentos de metal dos grupos da época medieval, existindo registros em documentos da antiga Roma. Seu emprego nos batalhões e regimentos de todos os povos é uma constante. A formação e a divisão instrumental variam de acordo com as características de cada país e de cada exército, levando em consideração o real emprego.
É fundamental destacar que a evolução das bandas de música e das fanfarras está ligada diretamente ao desenvolvimento dos instrumentos musicais, alguns surgidos nos primórdios da humanidade. Na associação evolutiva, resultam inúmeras possibilidades técnicas, estruturais e sonoras, sabendo-se que, no Primeiro Milênio d.C., esses instrumentos passam a ter o emprego direcionado verdadeiramente para as atividades militares. Alguns soldados, até então guerreiros, são requisitados para atuar como instrumentistas numa nova estrutura militar intitulada "banda de música".
Diversos tipos de bandas de musica foram sendo organizados de acordo com a quantidade e a variedade dos instrumentos de cada época. Na Síria, em 1191, foram introduzidas as trombetas, para chamadas e anúncios. Já nos séculos seguintes, o fife (pífaro) e a caixa clara foram os líderes dos instrumentos da Infantaria. Os Cruzados, de volta da Terra Santa, trouxeram a riqueza dos instrumentos usados pela Guarda do Sultão da Turquia. Na França, entre os anos de 1645 e 1715, Luís XIV de Bourbon mandou aumentar o efetivo das bandas dos seus regimentos. Na Alemanha e na Rússia, também foram criadas bandas em cada regimento.
Nos primórdios do Século XVIII, os compositores começaram a criar temas militares e patrióticos. A partir de 1750, as bandas passaram a ter estruturas definidas e organizadas dentro das unidades e a realizar apresentações em praças públicas.
Quando Dom João VI desembarcou no Brasil, em 1808, trouxe consigo uma banda formada por nove músicos. Em Portugal, cada Regimento de Infantaria do Exército possuía essa formação, sendo alterada, em 1815, para 11 integrantes. Outro aumento expressivo foi na Inglaterra, quando a banda integrante da Royal Artillery passou de 12 para 38 instrumentos. A França mostrou interesse no aperfeiçoamento, formando, em 1845, uma banda oficial com 48 instrumentistas. A Suíça copiou o mesmo efetivo da Prússia, que era de 36. O Exército Brasileiro possui, atualmente, uma divisão para o número de integrantes nas bandas e fanfarras, tendo de 16 até 96 músicos.
Segundo o Professor Florêncio de Almeida Lima, em seu livro Elementos Fundamentais da Música, "as bandas de música são excelentes fatores de cultura artística e concorrem poderosamente para o desenvolvimento do bom gosto do povo".
Na Guerra da Tríplice Aliança, nossos "guerreiros dos sons" estavam presentes, derrotando por inteiro a banda de música do 40º Corpo de Linha do exército oponente. Já na campanha da Itália, também houve contribuição com ações musicais, num efetivo de 120 músicos, integrando parte da Força Expedicionária Brasileira, o que levou brasilidade musical aos nossos Pracinhas.
Sobre a banda de música, George Fielding Eliot, militar da Escola de Comando e Exército-Maior do Exército dos Estados Unidos, escritor e jornalista especializado em assuntos militares e navais, em publicação na edição brasileira de novembro de 1953, da Revista Military Review, afirma em A Alma do Exército: "As canções que toca e as palavras que as acompanham podem parecer muito afastadas do heroísmo ou da devoção, mas o seu poder mágico e estimulante pode levar a alma dos homens a compreender certas verdades de que suas mentes duvidariam. Mais do que isto, ninguém pode dizer ao certo onde vive a alma do batalhão, mas a expressão dessa alma é, na maioria das vezes, encontrada na banda".
Sem dúvida, o verdadeiro significado da missão musical das bandas e fanfarras militares, quer sejam do passado, quer do presente, é conduzir a cadência rumo aos objetivos colimados.
Na oportunidade em que a Rádio Verde-Oliva, do Centro de Comunicação Social do Exército, completa 15 anos no ar, com inúmeras e variadas atividades voltadas à cultura e ao entretenimento, destaco o programa semanal "Bandas e Fanfarras", que tem divulgado e preservado as tradições patrióticas e castrenses, por meio da arte musical militar, o que enaltece os valores do nosso Exército, bem como revela as ações e os projetos incentivadores dessa arte, aproximando a tropa e a sociedade.

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Amilton Passos - 1º Ten QAO Mus - Regente
Escritor e Pesquisador da Arte Musical Militar
Autor da obra "A Alma da Tropa - Bandas de Música do Exército Brasileiro, da origem aos dias atuais" (Paris/2012).

Fonte: http://eblog.eb.mil.br/index.php/a-musica-militar-e-sua-harmoniosa-missao

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