- E se o pior acontecer de novo ? Estamos preparados ?

Há cinco anos, entre os dias 27 e 28 de março de 2004, ocorria o impensável. A literatura dizia que era impossível, mas a natureza provou o contrário. Um furacão, nada menos do que um furacão, atingiu a nossa costa. Meia década se passou e quase nada foi feito. Recém agora, como mostra uma excelente reportagem nesta edição do jornalista Gabriel Guedes, trabalha-se para colocar boias que poderiam ter fornecido dados do vento antes do Catarina chegar à costa. À época, sabíamos que o furacão seria desastroso pela sua dimensão, mas desconhecíamos a força do vento no mar. Os modelos computadorizados fracassaram, como reconhecido depois em vários trabalhos publicados no Brasil e exterior. Os mesmos modelos que, aliás, funcionam com incrível precisão para os furacões no Atlântico Norte. Sem o auxílio de modelos para projeções de 3 a 72 horas, o caminho era buscar dados em tempo real. Os norte-americanos usam boias e sondas, lançadas de aviões que voaam dentro das tempestades, mas nada disso se tinha no Catarina. O meteorologista estava como um médico diante de uma nova doença que jamais tratou e cujo receituário usado com êxito por colegas no exterior no tratamento não funcionava nos pacientes daqui.
Costumamos dizer que o Catarina nos trouxe na MetSul Meteorologia ao mesmo tempo os piores e melhores dias de previsão. Piores, porque nos deparávamos um fenômeno para a qual jamais tínhamos sido treinados e que sabíamos exigia nível de alerta acima de qualquer outro evento jamais previsto antes, o que trouxe uma carga de tensão única. Melhores porquanto, a despeito de todas as limitações de modelagem computadorizada e carência de dados de superfície, foi possível antecipar 36 horas antes da tempestade chegar ao continente a região em que o Catarina atingiria e determinar que a tempestade era de fato sim um furacão, o que levou um ano inteiro após o evento para ser objeto de consenso entre cientistas.
O alerta foi feito que não estamos livres de outro furacão, mas ignora-se a existência de um plano público para uma eventual nova tempestade. Imagine-se o pior cenário de um furacão junto à costa no Carnaval, afinal eles se formam no verão e começo do outono, com nossas praias abarrotadas. Em 2004, a sorte é que o desastre veio no fim de março. Há previsão de rotas de fuga ou de um sistema de alertas ? O cenário, apesar de pouco provável, é possível. Se ocorreu antes, pode ocorrer de novo, mas nossas autoridades parecem ignorar o risco. No nosso caso, nestes cinco anos, procuramos estudar e conhecer mais sobre furacões, estabelecendo contatos com experts no exterior e acompanhando de perto as tempestades no Atlântico Norte, de forma a estarmos muito melhor preparados na próxima vez, se o pior acontecer.
Fonte: Jornal ABC Domingo de 22/03/09 Eugenio Hackbart - Enviado por Ronimar Costa dos Santos - PU3CVB - GRUPO DE PREVENÇÃO DE DESASTRES (GPD)

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